quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Falso Desinteresse


Daniela Mercury anunciou que se casou com outra mulher, a jornalista Malu Verçosa, por meio da rede social Instagram no dia 03 de abril. Desde então, apareceu em inúmeros sites de notícias, na capa de importantes revistas e em entrevistas para a televisão. Muitos elogios e agradecimentos, mas também críticas e acusações.
“Ela jamais teria sido capa de revista Veja se não fosse este momento, existe oportunismo”, disse Marco Feliciano. Como ele, algumas pessoas acreditam que a declaração foi mera publicidade, com o intuito de fazê-la voltar à boca do povo e de esquentar sua carreira.
As perguntas dos acusadores incluem: “Por que postou esse momento pessoal na internet? Por que deu entrevistas e fomentou o assunto? Por que não ficou quieta e feliz no seu canto?”.  Particularmente, o fato de todos falarem bastante sobre a Daniela e as acusações de manipulação não me incomodam.
O que me incomoda é as pessoas acharem que a Daniela deveria se calar e viver sua vida amorosa escondida, fora dos holofotes. O problema está no falso desinteresse na história, como se o casamento dela fosse algo banal, totalmente comum no Brasil, e, por isso, não merecesse o destaque que teve. Contudo, isso apenas prova o quanto as pessoas ainda se sentem desconfortáveis com o assunto: o casamento homoafetivo. Mas vamos tentar responder as principais indagações. 


Por que Daniela divulgou seu casamento em uma rede social?
Ela é famosa há mais de 20 anos e, como qualquer celebridade, sempre teve que lidar com o assédio do público e da imprensa. Nos últimos anos, os artistas ficaram mais próximos de seus fãs por meio das redes sociais, e todos compartilham um pouco de sua privacidade por esses canais. Fotos com filhos e namorados, notícias em primeira mão, opiniões sobre diversos assuntos. Com Daniela não tinha que ser diferente.
Claro que ela sabia o impacto que a notícia causaria (inclusive contou ter tido receios), mas queria compartilhar um momento de felicidade como aquele com os fãs. Todos os meses, artistas se casam e contam aos sete ventos. Muitos casórios inclusive acontecem diante das câmeras dos jornalistas. Não havia motivo para a Daniela precisar esconder essa união. Ela tem orgulho de sua esposa. Além disso, é como se o público não fosse descobrir com o tempo. 

Por que Daniela fez questão de aparecer na mídia?
No jornalismo, o que determina se um acontecimento é notícia ou não são os “valores-notícias”. O ineditismo, o inesperado, o indivíduo envolvido e o significado cultural - para citar alguns - são características que dão um caráter especial para uma situação. E a declaração da Daniela se encaixa em tudo isso.
Quantos casais gays você conhece? No Brasil? Conhece-os pessoalmente?
Quantos famosos brasileiros são abertamente homossexuais? Quais deles têm um relacionamento às vistas? E quantos se casaram?
As respostas dessas perguntas levam a dois pontos:
             1- A Daniela mereceu o destaque que teve por ser uma pessoa querida e de renome, por divulgar algo inédito e inesperado, e por todo o significado que essa postura aberta traz. Se fosse um famoso hétero se casando, algo tão comum, realmente não haveria essa cobertura. E, por ser procurada, é claro que a cantora teve que dar entrevistas e reafirmar sua posição sobre o tema - com todos os prós e contras.
             2- Da mesma forma que você praticamente não conhece casais gays, os próprios homossexuais também não conhecem. Crescem sem uma referência de modelo familiar e sem ter em quem se espelhar e inspirar. A atitude da Daniela em assumir sua união pode não ter importância para a grande maioria, mas tem na vida de muitos gays. Ela mostrou que é possível se casar, ser feliz com alguém do mesmo sexo e sentir orgulho desse tipo de relacionamento – assim como qualquer outro casal. O dia em que todos os gays famosos demonstrarem seu verdadeiro afeto em público, neste dia, a notícia de mais um casamento homoafetivo não terá tanta importância.
 

Se, apesar de tudo, o assunto continua a azedar sua boca e a importunar sua mente, há uma única causa: seu preconceito!
Muitas pessoas não querem saber de casais gays na mídia, na capa da revista que chega a sua casa ou está nas bancas, no horário nobre da televisão, nas ruas, na sociedade, numa roda de conversa. Olhos que não veem... Se o casamento da Daniela te incomoda, provavelmente, você é do tipo que diz: “Pode ser gay, mas não precisa andar de mão dada na rua! Precisa demonstrar?”. No caso, pelo menos tenha a decência de assumir seus preconceitos e, de preferência, tente mudar sua mente e evoluir como pessoa. Menos pessoas como você no mundo e mais Danielas.
 

Já havia falado um pouco sobre esse assunto no texto “Relacionamentos Gays”.

sábado, 13 de abril de 2013

O Panteão das Divas - HADES [4/14]

“Hades/Gaga, em algumas versões, não é incluído nesta lista. Não teria assento no panteão porque passaria a maior parte do tempo em seu mundo inferior. Aparece raramente nas lendas musicais, talvez por ser nova na indústria e não sabermos até quando vai durar – embora seja muito mencionada. Não tem “filhos” (legado) ainda. Mas, assim como Zeus/Madonna, ela tem o raio (diferencial) e, como Poseidon/Beyoncé, o tridente (balacubaco). Para René Menard, a figura de Hades/Gaga representa um mero desdobramento da personalidade de Zeus/Madonna. Algumas versões dizem que, ao contrário do mito real (as fontes oficiais), Hades é o antagonista de Zeus, planejando destroná-lo e dominar o Olimpo.”
 

Personalidade: ●●●●
Stefani Germanotta – 26 anos, nascida em Nova York – era pouco conhecida até 2008, apesar de batalhar havia um tempo. No fim daquele ano, porém, muita gente já sabia quem era a loira com um raio no rosto que cantava em seu primeiro single: “Apenas dance, vai ficar tudo bem”.
Ela sempre foi talentosa: tocava piano aos quatro anos, escreveu sua primeira canção aos treze e fazia apresentações em casas noturnas aos quatorze. No Ensino Médio, fez vários musicais e depois estudou na Tisch School of Arts da Universidade de Nova York.
Cinco anos após sua estreia mundial, ela é uma das personalidades mais conhecidas e comentadas. Esteve presente entre os 25 artistas mais influentes do mundo em 2010, de acordo com a lista da revista Time. Posição em que diversos cantores com muitos anos de carreira nunca se encontraram.
Apaixonada por moda e referência na área, conta com o apoio da Haus of Gaga, seu grupo criativo pessoal. Ela, contudo, é mais lembrada pelas bizarrices (como a roupa de carne) do que pelos belos looks, apesar de sempre ser incluída como uma das mais bem vestidas em publicações como a Vogue. Vai entender. Uma das principais críticas à sua pessoa – e uma das razões de sua fama – era o fato de todo dia aparecer com um visual diferente e chocante. Embora deixasse todos curiosos sobre sua próxima aparição (“o que ela vai usar dessa vez?”), sua imagem cansou ao longo do tempo. Sabiamente, ela superou essa fase, focando mais em seu trabalho do que em seus escândalos visuais.
                Parte de seus fãs (os little monsters) forma uma das piores raças de seguidores que existe. Entretanto, poucos artistas são tão dedicados a eles quanto a Gaga. Além disso, mesmo sendo o centro de muitas discussões, ela raramente se pronuncia e prefere não dar continuidade a briguinhas e fofocas. 

Música: ●●●●
                3 CDs de estúdio lançados (incluo o The Fame Monster, que na verdade é um EP) e 14 singles. No total, foram 23 milhões de álbuns e 64 milhões de singles vendidos no mundo.
                Seu currículo ainda possui: 226 prêmios vencidos e 282 indicações, incluindo cinco Grammy Awards e 13 VMAs; cinco músicas mais vendidas no mundo; primeira artista a chegar a 1 bilhão de visualizações no Youtube, incluindo o 8º vídeo mais visto do site (Bad Romance); e o álbum mais vendido (Born This Way) no primeiro dia (524 mil) e na primeira semana (1,1 milhão). Para citar apenas alguns de seus recordes.
                Seus álbuns até aqui realmente foram muito bons, cheios de hits. O problema talvez seja um pouco de soberba. Em seu último trabalho, Gaga disse que faria “o maior álbum desta década”. Passou longe!
                É inegável que ela tem seu estilo único, apesar de utilizar muitas “referências”, e é uma boa compositora. Pensando a longo prazo, não podemos dizer que já tenha um legado duradouro – ela ainda copia e não é copiada. Mas algumas músicas como Bad Romance, Alejandro e Born This Way podem vir a se tornar eternas.

CD mais vendido: The Fame, 2008 (12 milhões).
Maior sucesso: Poker Face, 2008 (12,3 milhões / A mais baixada na história do Reino Unido).
 

Voz: ●●●●
                Inegável que canta muito bem (não há registros de que tenha desafinado vergonhosamente) e tem uma ótima voz. Também não há alegações de playback. Ela mesma afirmou: “Eu nunca dublo. Nem uma palavra. E eu nunca vou. E você nunca irá me ver ao vivo, ou pagar para ver meu show, ou me assistir na TV, para ver os lábios de uma vadia fazendo playback ao longo do setlist.” Exagerada essa afirmação, afinal, não é nenhum pecado mortal usar uma base pré-gravada em alguns momentos, por exemplo. De qualquer forma, ponto para ela.

Performance/Produção: ●●●
                Gaga dança direitinho. Em determinados momentos pode parecer meio desengonçada, mas o que falta é uma coreografia melhor. Porém, nada muito elaborado para ela, por favor. Simpática em seus shows, interage com seus fãs e conversa bastante durante todo o concerto. Por sinal, talvez um pouco menos de papo fosse mais.
                A produção de suas turnês é bem satisfatória e procura ser grandiosa, mas pode melhorar. Lady Gaga tem a seu favor as tecnologias do século 21, porém, em termos de qualidade (não digo revolução), ainda estaria no nível dos shows da Madonna dos anos 1990. Palco grande (mas meio comum), cenografia elaborada (pecando aqui e ali – como aquele peixe-monstro! horrendo na Monster Ball), bons dançarinos para dar suporte, alguns belos figurinos (outros terríveis), mas sem a magia dos telões, por exemplo. Ela também procura explicar demais o que está acontecendo no palco, não dando espaço para interpretações pessoais. Falta experiência à Gaga, mas ela é ambiciosa e daqui a alguns anos pode estar com shows impecáveis.
                Seus clipes e apresentações são extremamente produzidos também. Até demais, em alguns momentos. No começo de sua carreira, era sempre uma ansiedade para ver mais uma apresentação dela. Foram tantas e tantas, todas enormes (a maioria com mais de 5 minutos). Assim como sua imagem, suas apresentações cansaram e o grande público passou a ver somente as mais importantes – as das premiações, em especial. Parece que ela deu um tempo agora também. Ótimo para ela. Sem contar os clipes (ou curtas-metragens) com conceitos bizarros. No início, todo mundo queria desvendar o que tinha por trás deles, agora não mais. Para que ficar quebrando cabeça? A propaganda de seu perfume Fame, por exemplo, não tem pé nem cabeça. Whatever. 

Apresentação marcante: Paparazzi no VMA de 2009
 
Relevância: ●●●●
                A mulher mais pesquisada na internet e com o maior número de seguidores no Twitter (mais de 36 milhões). Ela não é qualquer uma, definitivamente. Sua influência é enorme, e Gaga está apenas começando a usá-la.
                Tem a instituição humanitária Born This Way Foundation, que busca capacitar e conscientizar os jovens sobre bem-estar, bullying, autoconfiança, respeito aos LGBTs, etc. E seu foco é justamente nesse último grupo. Ela é uma defensora dos direitos gays, afinal, boa parte de seus fãs são homossexuais. Gaga já proclamou durante a Marcha Nacional pela Igualmente nos EUA (2009) e falou em uma reunião a favor de acabar com a política militar “Don’t ask, don’t tell” (2010). Quantas outras cantoras se engajaram assim? Seus fãs, muitos com características andróginas, podem ser eles mesmos – ou quem eles quiserem ser – nos shows da mother monster.
Atualmente, tem uma relevância muito grande no mundo. No futuro... ainda é incerto. Mas se ela conseguir manter a carreira com sucesso e tentar evoluir sempre, pode se firmar como uma figura eterna no Olimpo.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Panteão das Divas - POSEIDON [3/14]

“Com um movimento de seu tridente (quadril), causa terremotos e tsunamis. Também já se relacionou com a terra e com os cavalos (veja o clipe “Run The World”), como se depreende de um de seus epítetos mais frequentes: “abaladora da terra”. Também é a deusa do mar (vide “Smash Into You” na I Am... World Tour).”


Foto da esquerda por Thyago Cordeiro - SP/2010 

Personalidade: ●●●●
                Bey. Honey B. Ex-Destiny’s Child. Beyoncé Knowles.
Começou a carreira em 1997, no acima citado grupo e, em 2003, deu início à sua carreira solo. Desde sempre trilhou o caminho artístico. Quando pequena, fez aulas de dança (balé e jazz) e integrou os corais da escola e da igreja. Aos 7 anos participou e venceu o seu primeiro show de talentos.
Cantora e dançarina nata, também tem sua vez como atriz, apesar de não se destacar na área. Já participou de sete produções, a última a ser lançada em 2013. Seu maior sucesso cinematográfico é o filme Dreamgirls, com o qual recebeu duas indicações ao Globo de Ouro. Por trás das câmeras, dirigiu um documentário sobre sua história recente – Life Is But A Dream (2012).
Sua vida íntima, por sinal, é bem reservada. O que se sabe, geralmente, é divulgado por ela mesma. Seja por esse documentário ou por pequenos vídeos, como os presentes no DVD I Am... World Tour. Apesar de vermos momentos pessoais e até bastante emotivos, não sabemos até que ponto cada lágrima e sorriso são verdadeiros. Não podemos dizer que sejam cenas falsas, mas podemos afirmar somente que são cenas de “aparente realidade”.
Casada com o rapper Jay-Z desde 2008 (o relacionamento começou no início do século), tem uma filha chamada Blue Ivy, nascida em janeiro de 2012. É conhecido que sofreu um aborto espontâneo antes dessa concepção – mais uma vez, tudo muito discreto. A gravidez inclusive foi tão reservada que gerou muitas dúvidas: estaria ela usando uma barriga de grávida falsa? Ela afirma que é a maior besteira que já inventaram em sua carreira.
Quando está no palco, contudo, ela se transforma. Surge Sasha Fierce, seu alter ego. Por sinal, foi sua segunda personalidade que, com o aval da primeira, denunciou a gravidez para o mundo no final de sua apresentação no VMA de 2011.
Bonita, elegante, sex symbol. Simpática e educada com todos até que se prove o contrário. Mesmo o fã que reclamou de sua desatenção (“She’s probably a bitch!”) mudou de opinião.

Música: ●●●
Sua carreira inclui 4 álbuns de estúdio e mais 5 ao vivo. Estes últimos são mais do mesmo, já que não faz versões muito diferentes. Mas quem vai reclamar quando a música é boa?
Como trio, vendeu mais de 50 milhões de discos. Como um terço, vendeu 50% mais – outros 75 milhões em sua conta. Só nos Estados Unidos, foram mais de 30 milhões de singles comercializados, sendo a 8ª artista nesse ranking.
O currículo traz também 181 prêmios vencidos e 318 indicações. Nos Grammy Awards, Beyoncé detém um recorde: a artista feminina mais premiada em apenas uma edição. Em 2010, venceu seis das dez categorias nas quais concorria. E não para por aí. Honey B contabiliza 17 Grammys no total (três como parte das Destiny’s). Ela é a 10ª artista que mais ganhou esse prêmio e a 10ª na lista dos que mais receberam indicações (45).
Desde que seu pai deixou de ser seu empresário, Bey administra sua carreira e sua própria equipe. Artisticamente envolvida em todos os seus trabalhos, co-escreve e co-produz boa parte das canções. Más línguas já disseram que ela não era tão envolvida assim, apenas levava os créditos. No entanto, a American Society of Composers não dá ouvidos a boatos e, em 2001, premiou Beyoncé como “Compositor do Ano”, por suas composições de 1990 a 2000 no Destiny’s Child. Foi a primeira compositora mulher e a primeira afroamericana a ganhar o prêmio.
Suas canções classificadas como R&B contemporâneo, com traços de dance-pop, não adquiriram muita notoriedade nas listas ao longo dos anos. Seu maior sucesso ainda é Crazy in Love, a melhor música da década de 2000, segundo a revista NME.
 
CD mais vendido: Dangerously In Love, 2003 (15 milhões).
Maior sucesso: Crazy in Love, 2003 (8 milhões).


Voz: ●●●●●
                Uma das melhores vozes de nossa época. Ponto. Para o jornalista Paul Flynn (The Guardian), “a voz de Beyoncé é única e rápida, com muita técnica vocal”. Jody Rosen (Entertainment Weekly) completa: “Você teria que pesquisar muito, talvez nos salões do Metropolitan Opera, para encontrar um vocalista que canta com a mais pura força”. E criticar o playback na posse do presidente Obama só tem um nome: recalque. 

Performance/Produção: ●●●●
                Ninguém dança como Beyoncé, isso é inegável. Aí você junta sua voz poderosa, como já comentamos, os dançarinos cheios de marra, sua muito competente banda feminina (as Suga Mama) e adiciona, por fim, uma produção de primeira qualidade. O resultado não poderia ser outro: sucesso.
                A pessoa que vê seu show pela primeira vez, principalmente se for ao vivo, sai embasbacado. Ela é uma potência no palco. Tanto que foi convidada para ser a apresentação do intervalo do Super Bowl em 2013. E precisava ser um artista à altura da Madonna, que havia abalado as estruturas do estádio no ano anterior. Aqui, porém, surge um defeito (ou não) em sua ficha limpa.
                Beyoncé sabe exatamente o que torna seu show grandioso – figurino, iluminação e coreografias –, justamente o que ela sempre entrega. Os fãs não se cansam das roupas de couro ou brilhantes, do cabelo ao vento, da fumaça e da pose com a mão na cintura. Os não-fãs se cansaram há um tempo.
A questão é: Beyoncé é repetitiva. A primeira vez é maravilhosa. A segunda é um repeteco gostoso. A terceira, apesar da avidez, já não leva ao orgasmo. Honey B, por exemplo, lançou três DVDs em anos seguidos. Precisa de tudo isso? E sua apresentação no Super Bowl – mesmo excelente e superior a muitas outras – sofre do mesmo mal. Produção impecável, mas com pouca novidade.
Ok. A gente reclama, mas sempre estamos lá para vê-la. Seja em suas turnês, suas apresentações na televisão e em premiações (veja abaixo a da Billboard, uma das melhores ever), ou suas participações em festivais como o Glastonbury (2011) e o Rock in Rio, em 2013. A gente perdoa até a lágrima forçada de Flaws And All, em um de seus DVDs.
Michelle Harris, do jornal South Florida Times, escreveu: "Beyoncé atua no palco com arrogância e intensidade. Mostrando a sua poderosa voz, sem perder nenhuma nota, muitas vezes, envolvida em vigorosos passos de dança. Ninguém, nem Britney Spears, nem Ciara ou Rihanna, pode fazer o que ela faz: um pacote completo de voz, movimentos e presença”. Onde podemos assinar?

Apresentação marcante: Billboard Awards 2011


Relevância: ●●●●
                Todo artista é influenciado por alguém, mas nem todos são influenciadores. Quando alguém se torna inspiração para terceiros, pode-se dizer que alcançou um novo patamar. Rihanna, Lady Gaga, Alanis Morissette, Miley Cyrus e outros cantores já declararam sua admiração por Beyoncé. No Brasil, podemos citar o curioso caso da banda Cansei de Ser Sexy, que tem esse nome por causa de uma entrevista em que Bey afirma não aguentar mais ser tão bonita e sexy.
                E o reconhecimento de um verdadeiro talento chega a transbordar. 4ª melhor artista da década de 2000, aparecendo também em nono lugar com seu antigo grupo, em ranking da revista Billboard. A mulher de 2009, segundo a mesma revista, e, para reconhecer as realizações de sua carreira e influência na indústria, recebeu em 2011 o prêmio Billboard Millennium Award. A artista que mais recebeu certificações (de álbuns e singles vendidos) na última década, de acordo com a RIAA. Em 2010, o VH1 a colocou como a 52ª maior artista de todos os tempos, e, em 2012, declarou-a como a 3ª “grande mulher na música”.
                Um exemplo de artista e um exemplo de mulher negra. Beyoncé encabeçou a lista das mulheres afroamericanas mais poderosas dos Estados Unidos, segundo a Forbes, em 2011. Essa revista também a elegeu como a cantora mais rica do mundo com menos de 30 anos. São 87 milhões de dólares arrecados em 2008-09, para se ter uma ideia.
                Queridinha do presidente Barack Obama, cantou nas festividades das duas posses. Queridinha nas redes sociais, entrou para o Guinness Book como o assunto mais tweetado por segundo (8.868 vezes), quando anunciou a gravidez no VMA. Queridinha pela população americana, criou (com sua família e com a Kelly Rowland) a Survivor Foundation, uma instituição de caridade que criou alojamentos provisórios para as vítimas do furacão Katrina. Além de participar de inúmeros eventos beneficentes.
                O Daily Mail declarou: “Muitos especialistas da indústria acreditam que Beyoncé é como o próximo Michael Jackson. Embora seja muito cedo para tais comparações, ela certamente provou que é um dos artistas mais talentosos e excitantes atualmente e pode muito bem entrar para a história como tal”. Ninguém chegará ao nível de Michael Jackson e Madonna. Contudo, sem dúvidas, a Honey B poderá entoar no final de sua vida os versos da canção I Was Here: “Quando eu deixar este mundo, não vou deixar arrependimentos. Vou deixar algo para ser lembrado, para que eles não esqueçam que eu estive aqui”.
Não esqueceremos.

terça-feira, 2 de abril de 2013

O Panteão das Divas - AFRODITE [2/14]

“Deusa do amor, da beleza e da sexualidade. Dentre seus símbolos está a pomba. Kylie é a mais bela das deusas. [All the lovers...] Nas regiões de Corinto, Esparta e Atenas (leia-se: Europa, Ásia e Oceania), ela é muito cultuada. É capaz de seduzir a todos, deuses ou mortais...”


Personalidade: ●●●●●
                Tudo começou em 1986, quando interpretava o papel de uma estudante que virava mecânica, na novela australiana Neighbours. Em um evento beneficente, cantou a música Locomotion. Fez tanto sucesso que a gravou em estúdio. Resultado: sete semanas em 1º lugar na Austrália e o single mais vendido da década.
                Mas ela nunca abandonou seu lado atriz. Além de 4 personagens importantes em filmes, ela fez pequenos papeis em mais de 10 outros longas. O último foi em 2012, no filme Holy Motors, de Leos Carax, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes. E vem mais por aí.
                Por sinal, ela foi considerada a personalidade mais bem vestida do festival. Nenhuma novidade, pois ela sempre figura nas listas de moda. Há alguns anos, aparece no Top 50 da revista Glamour – já apareceu em 1º lugar (2007) e atualmente está na 45ª posição.
                Como Madonna, ela não se destaca em nenhum aspecto em específico, mas faz tudo com muita competência. Kylie mesmo afirmou em 2000: "Eu sou uma faz-tudo. Se fosse para escolher qualquer um dos elementos do que eu faço, eu não saberia me sobressair em qualquer um deles. Mas coloque todos eles juntos, e eu sei o que estou fazendo."
                Talvez ela se destaque mesmo em uma característica: sua personalidade. Kylie é muito focada, esforçada, nunca se envolve em polêmicas e é uma simpatia de pessoa. Em sua passagem pelo Rio de Janeiro, em 2012, atendeu os fãs no hotel, na coletiva de imprensa, no restaurante e no festival de cinema – sempre sorridente e atenciosa. Sua vida pessoal é muito reservada, inclusive quando foi diagnosticada com câncer de mama em 2005 e teve que cancelar a turnê Showgirl para fazer tratamento com cirurgia e quimioterapia.
                Na corrida para ver quem fica com o reinado da Madonna, Kylie corre por fora e faz seu trabalho sem se preocupar com as consideradas concorrentes.

Música: ●●●●
                Minogue, com 11 álbuns e 56 singles, contabiliza mais de 68 milhões de vendas mundiais. Entre altos e baixos, conquistou respeito e uma posição privilegiada.
Considerada uma das melhores cantoras na Europa (principalmente no Reino Unido), Oceania e Ásia, nunca conseguiu entrar nos EUA e, consequentemente, na América. O The Wall Street Journal descreveu Kylie como "uma estrela internacional que parece eternamente incapaz de conquistar o mercado dos Estados Unidos". Mas ela já afirmou que não estava disposta a investir o tempo necessário para se estabelecer por lá e preferiu colher os louros no resto do mundo. Este, aliás, foi um “problema” que nunca atormentou a Kylie. O que a deixava frustada era as pessoas considerarem sua carreira incompleta pela falta de aprovação dos norte-americanos. De qualquer forma, em 2013, mudou de gerenciamento (de carreira) e de gravadora. Vamos ver se agora a história muda na terra do Tio Sam. Não que ela precise...
                Seu primeiro álbum, Kylie (1988), ficou mais de um ano nas paradas britânicas, muitas semanas em #1. Contudo, Minogue adquiriu independência total somente em seu 6º álbum – Impossible Princess, 1997. "Eu era muito mais uma boneca no começo. Eu estava cega pela minha gravadora. Eu era incapaz de olhar para a esquerda ou para a direita." Em outro momento ela declarou: “Para mim, a parte mais difícil foi desencadear o núcleo de mim mesma e ser totalmente sincera na minha música.” Em um universo em que a maioria das cantoras é “produzida”, quem mais assumiria uma informação dessas?
                O sucesso mundial voltou em 2001, com Fever. O álbum foi número 1 na Austrália, Reino Unido e em toda a Europa. Sua música de trabalho, Can’t Get You Out Of My Head, ficou 9 semanas em 1º lugar no Reino Unido e chegou ao topo em mais de 40 países. Foi escolhida pelos britânicos como a 10ª música favorita dentre os singles bem sucedidos por lá desde 1952. E de acordo com o site Daily Mirror, a música é considerada o hit dos anos 2000, já que foi a música mais tocada nessa década por lá. O amor pela Kylie no Reino Unido é tão grande que ela é o 12º artista a vender mais singles (10,1 milhões) na história dos charts ingleses.
                Ao longo de sua carreira, Minogue recebeu 90 prêmios e 160 indicações. 

CD mais vendido: Kylie, 1988 (14 milhões).
Maior sucesso: Can’t Get You Out Of My Head, 2001 (mais de 6 milhões).
 
Voz: ●●●●
                Ela canta! Mas assume: "eu nunca vou soar como Christina Aguilera". Seus shows e apresentações são ao vivo e, até agora, não houve denúncias de playback. A única crítica possível é não gostar muito de sua voz – “fina demais às vezes”?! Contudo, é uma de suas características que melhorou ao longo dos anos. 

Performance/Produção: ●●●●
                A única artista que chega ao nível da Madonna tratando-se de produções é a Kylie – em suas últimas 3 turnês, especialmente. A tour KylieX2008 é considerada uma das mais caras da história, com custos de produção de 10 milhões de dólares, porém um passo maior foi dado em sua última turnê.
                Aphrodite Les Folies (2011) foi um dos espetáculos mais extravagantes e tecnológicos já feitos. Seu custo chegou a 25 milhões de dólares. O palco tinha mais de 1 milhão de peças móveis, 600 fontes de luz e 7 elevadores. O pessoal da Disney California Adventures ajudou a conceber a parte aquática do show – o primeiro a ter isso na estrada. Jatos d’água de até 30 metros molhavam a chamada Splash Zone, onde os fãs ganhavam toalha e capa de chuva especiais. Por fim, foram usados aproximadamente 200 figurinos.
                Uma crítica que fazem a ela é: dançar pouco. É fato que Minogue não é uma exímia dançarina, ela arrisca poucos passos hoje em dia. Entretanto, esse também é seu diferencial. Ela se porta como uma anfitriã,  uma musa, introduzindo as pessoas ao seu universo encantado. O que não falta é simpatia e interação com o público. Na Les Folies, ela sempre chamava um fã ao palco. Engraçado que em muitas cidades europeias, os escolhidos acabavam sendo brasileiros – os mais animados. Ela sambou, assinou braço de fã para futura tatuagem e até abençoou o pedido de casamento de um casal gay – tudo no palco.
                Kylie também já fez outras ótimas apresentações e shows, incluindo a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000. Ousada, fez uma mini-turnê (a Anti-Tour) só com b-sides, unrealeaseds e raridades. E, em 2012, lançou um álbum com versões orquestradas de alguns de seus maiores sucessos. Coisas que nenhuma outra ainda fez. Tudo para agradar os fãs.

Apresentação marcante: Sydney Gay and Lesbian Mardi Gras
 

Relevância: ●●●
                25 anos de carreira não é para qualquer uma. É a segunda cantora pop com uma carreira tão grande e de constante sucesso. Com idade próxima dos 45, aparenta ser mais jovem e está a cada dia mais bonita.
                Apesar de ser australiana, é uma britânica de coração. O Reino Unido é fascinado por ela, inclusive a realeza. Minogue participa de eventos da família real desde o início de sua carreira. Em 1988, participou do Royal Variety. Em 2012, apresentou-se no Jubileu de Diamante da Rainha Elizabet II e cantou em um jantar promovido pelo Príncipe Charles e sua esposa Camilla. Em 2008, foi premiada com a Ordem do Império Britânico, por "serviços prestados à música", e um Ordre des Arts et des Lettres. E, em 2010, foi declarada pelos pesquisadores como a “celebridade mais poderosa da Grã-Bretanha”.
                Outro público que a idolatra – este mundialmente – é o LGBT. Kylie aparece em 26º dentre os 50 ícones gays, segundo o MetroNOW. O jornal The Sun, por sua vez, a coroou como o “Maior Ícone Gay de Todos os Tempos”, em 2007. Em Sydney, ela partipou duas vezes do Gay and Lesbian Mardi Gras (a parada gay de lá), em 1994 e em 2012. E, proporcionalmente, acredito que nenhuma outra cantora atual tenha tantos fãs gays quanto ela.
                Infelizmente, em muitos lugares, Kylie ainda não recebe a devida atenção. Todavia, quem conhece seu trabalho, passa a admirá-la. A BBC News descreveu Kylie como uma “criadora de tendências” (na moda) e um “ícone de estilo que constantemente se reinventa”. Como Madonna. E igualmente copiada.
                Kathy McCabe, do jornal The Telegraph, conclui sobre as semelhanças, na música e na moda, de Kylie e Madonna: "Onde elas realmente divergem sobre a escala da cultura pop está no valor de choque. Clipes de Minogue podem tirar suspiros de alguns, mas Madonna inflama o debate político e religioso diferente de qualquer outro artista do planeta… Simplesmente, Madonna é a força escura; Kylie é a força da luz."