O MAIS IMPORTANTE
O amor
apenas “surge” ou é uma escolha? Até que ponto é um sentimento natural/genuíno
ou uma ação? Em que medida é um esforço pessoal ou obra do destino/acaso? Um
casal passa anos juntos porque realmente se ama ou porque decidiu racionalmente
unidos ficar? Sempre me fiz esse tipo de questão. E nunca obtive uma resposta
certa – nem deve existir. Provavelmente, o amor é obra de todas as
circunstâncias citadas.
No mundo da
fantasia, ele simplesmente acontece. Logo, muitas pessoas – incluindo-me –
acreditam e esperam que seja da mesma forma no mundo real. Idealizamos o
primeiro encontro, a perda da virgindade, o casamento, a lua de mel, a
convivência... Decepção programada desde nossa infância. É necessário um “reboot” – reprogramar e reiniciar o
imaginário social em relação aos relacionamentos.
- O que você vai fazer mais tarde?
“Diga que vai estar ocupado.”
- Nada especial – respondeu.
- Então vamos fazer alguma coisa? Quer dizer,
nós dois?
“Espere ela dormir e saia de fininho.”
- Sim. Tudo bem – concordou. – Vamos
fazer alguma coisa.
O racional ajuda a moldar o emocional. Talvez você
fique um pouco decepcionado como eu ao fazer essa constatação, já que o amor
não é algo completamente sobrenatural, “escrito nas estrelas” e sublime. Muitas
situações devem ser ponderadas e escolhas feitas. Como no trecho literário
acima, as primeiras decisões podem se tornar determinantes para o
prosseguimento e fim da história. Dê oportunidades para se envolver.
Em um relacionamento, ambas as partes devem fazer uma
opção para ficarem juntos por muito tempo: querer lutar pela
relação. Ao longo desta série, que chega ao fim, foram citadas inúmeras ações
que contribuem para fortalecer o namoro/casamento, e ainda há muitas outras.
Existem cinco pilares que mantêm o amor vivo – três
já foram citados nos textos anteriores. Nenhum relacionamento tem futuro se
faltar uma dessas bases. Eis:
1.
Confiança:
nas ações e sentimentos do companheiro. A princípio, significa acreditar na
fidelidade, mas é também entregar-se sem reservas; ter fé; dar crédito; esperar
pelo outro; ter segurança; poder compartilhar segredos; saber que ele não vai
te abandonar nas horas difíceis, pelo contrário, vai te ajudar, apoiar,
incentivar, etc. Ter confiança é caminhar pela fé, não pela visão ou demais
sentidos – assim como é a crença em algo superior, em Deus.
2.
Respeito:
como dito antes, violência física e psicológica são o fundo do poço, uma linha
que depois de cruzada não tem mais volta. Este pilar também é saber o que dizer
(ou não) na hora certa; agir corretamente; saber tratar o companheiro na frente
dos outros; honrá-lo, dar valor e importância; ter consideração e apreço;
reconhecer e respeitar a individualidade e o espaço alheio – assim como tratamos
nossos pais.
3.
Admiração:
pelo “algo a mais” que você perceberá no parceiro. O dicionário diz que é “o
sentimento de deleite, enlevo ante o que se julga nobre, belo ou digno de
amor”. Encantar-se com a beleza, a inteligência, os talentos, o modo de agir ou
falar, por exemplo; inspirar-se no outro a ponto de querer crescer sempre mais
como pessoa; desejar o melhor; reverenciar e elogiar; ter orgulho e falar com
“brilho nos olhos” (“Essa é minha garota, eu a amo!”) – assim é como todo mundo
quer ser tratado pelo companheiro.
4.
Cumplicidade:
companheirismo; poder compartilhar todos os momentos da vida; estar sempre do
lado, o famoso “pau para toda obra”; não desistir, mas acreditar; ter intimidade;
contar com o outro para tudo, uma verdadeira parceria, tendo e dando apoio;
criar um laço – assim como buscamos essas características em um amigo.
5.
Dedicação:
sem isto, brotará a comodidade e todos os quatros pilares anteriores podem ruir
(traição, desrespeito, ódio, afastamento, etc.). Alimentar o sentimento;
gastar/compartilhar tempo com o próximo; abrir mão de algumas coisas
(abnegar-se); oferecer-se em voto e com afeto; pôr-se a serviço; importar-se
com os sentimentos alheios e buscar conhecer sempre mais o companheiro;
elogiar, dar flores, passear, sair para jantar, presentear, fazer surpresas e
viagens, enfim, todas essas coisas deliciosas que não levam à monotonia – assim
como os possíveis futuros filhos exigirão também essa entrega.
Summer - Eu
não acredito em amor.
Tom -
Porque não?
Summer -
Porque ele não existe!
Tom - Como
sabe que ele não existe?
Summer -
Como sabe que ele existe?
Tom - Vai
saber quando sentir.
Summer –
Apenas aconteceu [de me casar]. [...] Eu acordei um dia e soube.
Tom - Soube
o quê?
Summer – O
que eu nunca tive certeza com você.
Tom – Sabe o que é uma droga? Perceber que tudo em que você acredita é uma
mentira. [...] Sabe, destino, almas gêmeas, amor verdadeiro e todos aqueles
contos de fadas infantis.
Summer – [...] Eu estava sentada numa doceria lendo Dorian Gray, um cara chega
para mim, me pergunta sobre o livro e agora ele é meu marido.
Tom – É, e daí?
Summer – E daí... E se eu
tivesse ido ao cinema? E se eu tivesse ido almoçar em outro lugar? E se eu tivesse
chegado 10 minutos mais tarde? Era… era pra ser.
Narrador – Você não pode atribuir um
significado cósmico a um simples evento terreno. Coincidência. É o que tudo é.
Nada mais que coincidência. Tom finalmente aprendeu que não existem milagres.
Não existe essa coisa de destino. Nada é para ser. Ele sabia. Agora ele tinha
certeza disso.
Seja você crente
no destino (como o personagem Tom) ou no acaso (como a Summer), ou mude de
ideia (como ambos) ao longo do tempo, nada muda a necessidade de se preservar
os citados cinco pilares. Comece um relacionamento levando-os em consideração e
tendo certeza de que é a pessoa certa para a sua vida, ao menos naquele momento.
Parece que a
maioria das pessoas não tem noção da relevância de um cônjuge. Algumas preferem
ficar solteiras (e tudo bem!), outras casam pelos motivos errados e há ainda as
que acreditam ser possível trocar de
marido/esposa a qualquer momento. Está na hora de dar valor a quem merece.
“Não é bom que
esteja só, farei alguém que o auxilie e lhe corresponda”. Se você acredita
nesse relato, uma pergunta: por que Deus criou um “parceiro” (que fica no mesmo
nível em uma árvore genealógica) e não um “descendente” (em um nível abaixo)
para fazer companhia ao homem? Porque o parceiro é o único que permanece ao
longo dos anos.
Os pais são de extrema importância na
primeira etapa de qualquer vida – eles sustentam as crias, dão educação,
carinho e atenção. Mas todo passarinho precisa sair de baixo das asas dos progenitores
e dar seus próprios voos. E, comumente, os pais partem antes dos filhos. Já o
amor por um filho é eterno e o mais forte que existe. Porém, assim como um dia
você seguiu seu próprio caminho, assim seus descendentes o farão também.
Seus pais ficarão para trás. Seus filhos
partirão à sua frente. Você estará sozinho. A não ser que a seu lado tenha um
cônjuge, que te ampare na perda de seus velhos e na despedida de sua prole. É
ele quem vai te compreender e estar sempre ao seu lado. Pelo menos deveria ser desta
forma. Pelo menos assim espero que seja em minha vida. Dê valor a essa pessoa!
A verdade é que só queremos uma única
coisa, o mais importante: ser feliz.
Últimos adendos:
- Traição: perdoável em
determinadas situações – se for um caso isolado, se não houver reincidência, por exemplo. Cada caso é um caso. Cada pessoa sabe o que sente, amor ou
ódio. Quando se ama de verdade, o problema não é nem perdoar, mas sim a volta.
A confiança perdida possivelmente nunca será recuperada. É a falta dela que
pode acabar com o relacionamento. Perdoaria uma traição? Sim ou não, nunca diga
nunca. Apenas jamais se humilhe pelo outro. Tenha autoestima e procure alguém
melhor, se for o caso.
- Ciúmes: um pouco é super
saudável para a relação. É bom saber que o outro se preocupa, tem medo de te
perder e cuida do que é seu. Mas fuja dos muito ciumentos, tenha medo desses
psicopatas. A partir do momento em que sua vida começar a ser talhada pelo
outro, o negócio já não está bom. E, afinal, ou há confiança (um dos pilares
essenciais) ou não há.