domingo, 18 de abril de 2010

Você conhece SIA?

Se você mora no Distrito Federal, já aviso logo que não se trata do Setor de Indústria e Abastecimento! Sia simplesmente é a melhor descoberta que fiz neste ano. Na verdade, não descoberta, pois soube dela por meio do meu amigo Luciano Lima (eternamente grato por esta e outras “descobertas”!).

Eis a prova final para saber se algum dia você “esbarrou” no trabalho dela ou não. Se você assistiu à série Six Feet Under (A Sete Palmos) deve ter um carinho especial por ela:



Hurt myself again today,

and the worst part is there's no-one else to blame

[…]

I am small

I'm needy

Warm me up

And breathe me


Esta é a música Breathe Me, o single mais conhecido da cantora Sia (Furler), que emocionou milhares de pessoas no episódio final da citada série. Luciano que o diga! (Eu - ainda - não tive o prazer de ver).


Pois bem, Sia Kate Isobelle Furler nasceu na Austrália, mais especificamente em Adelaide, em dezembro de 1975, e foi criada na rua mais hippie da cidade. Seus pais chegaram a tocar em uma banda. Sua carreira musical começou aos 17 anos, no grupo australiano de club jazz e indie, Crisp, que lançou dois álbuns – Word and the Deal e Delirium. Em 1997, fez seu début na carreira solo com o CD Only See.

Seu sucesso comercial foi alcançado somente quando se mudou para o Reino Unido, depois de viajar por vários lugares do mundo. Ela trabalhou com grandes nomes da música mundial, como Beck, Jamiroquai e, recentemente, escreveu canções para o novo álbum da Christina Aguilera – Bionic.

Sua voz é única e inesquecível – depois que você a ouve por um tempo, com as primeiras frases de qualquer música você saberá se é ela quem canta ou não. O sotaque australiano-britânico e seus vocais suaves, lindos, sussurrados e, algumas vezes, “doloridos de sair” são sua marca registrada. Para alguns críticos, algo que atrapalha na interpretação das canções.

Para completar, justamente o que mais me chamou a atenção: as letras escritas pela Sia são ES-PE-TA-CU-LA-RES! Cada frase transborda de tanto sentimento e verdade.

Os temas são os mais diversos: dar um tempo nas brigas de casal (Let's desert this day of hurt, tomorrow we'll be free – Soon We’ll Be Found); a garota que decide seguir a razão, ao invés do coração (I'm glad somehow I got brains down there, at least – Little Black Sandals); a mulher que perdeu o namorado para as drogas (No, I don't need drama, so I'm walking away – The Girl you Lost to Cocaine); como superar um amor (Tears on your pillow will dry and you will learn just how to love again – Death by Chocolate); a eterna espera por um cara (And I'm waiting for you again, tell me what can I do – Taken for Granted); e até sobre medos, incluindo o seu próprio (Sometimes I worry my boyfriend will die. My first love is already dead – The Fear) – Sia perdeu seu “primeiro verdadeiro amor” atropelado por um táxi preto, uma semana antes de ir para Londres ficar definitivamente com ele.



Abaixo, eu faço um breve comentário sobre cada um dos álbuns da Sia e apresento as músicas na ordem das que eu mais gosto, e não na ordem original do CD.



Healing is Difficult (2001)

Um mix eclético de R&B e jazz, este é o álbum mais antigo da Sia possível de ser encontrado para download. Contudo, ela odiava quando o classificavam de “urbano”. O “menos bom” dos três, na minha opinião, também é que soa mais alegre, antes dela começar a fazer músicas mais “deprês” – lembrando que os CDs da Sia no Brasil, somente baixados ou importados, infelizmente! Nesta época, ela chegou a ser comparada com Lauryn Hill e Nelly Furtado. A primeira música do álbum (Fear) realmente me lembrou essa última. • Taken for Granted – primeiro single, lançado em 2000, chegou a ficar em 10º lugar na parada britânica.



See, I do what I say

and I say what I do.

Is it too much to expect

that you could?

I wish you would


• Fear – quem não tem medo de alguma coisa?

You see, fear is only holding us back.

Look closely amongst all your peeps,

there is usually one thing that keeps us off track:

It is fear, it is fear, it is fear


• Little Man – um remix de Wookie. Continua sendo popular em algumas boates do Reino Unido.

Little man, your head is full of dreams.

If only I could spend one day touring your imagination


• I’m not Important to you

You don't have the time that I need,

that I want, I deserve.

But I got back my nerve.

Did what was right for me.

I'm using my head, not my heart

and I'm starting new.

I'm going to get over you, over you


• Drink to get Drunk

Don't ask me why I smoke

I don't know

But I drink to get drunk


• Blow it all Away

But even if you had it all,

you would find

I could never let you stay

• Get me

But the burden is just too much

I'm losing touch with myself and my health


• Healing is Difficult

My best friends are pushers

My boyfriends are whores


• Judge me – Sia fala das pessoas que julgam as outras. Quanto mais livres elas se sentirem, mas livres deixarão os outros serem. O motivo desses julgamentos podem ser os mais diversos. Para mim, a carapuça serviu para quem condena os gays usando Deus. Sob essa ótica, a mensagem seria: seja você mesmo, porque Ele "te ama".

It's such a terrible, terrible shame.

You keep on judging me in His name.

You're so quick to shift the focus,

cos you can find yourself

in today's frame.

But I know He's approve,

and I've nothing to prove to you.

He smiles down on me lovingly


• Sober & Unkissed

I'm tasting your sweet kisses with mine

The sweet taste lingers left on lips


• Insidiously

You thought you could climb me

I'm sorry to cut your rope

But in you I've lost all hope


Colour the Small one (2004)

No ano anterior, Sia tinha lançado o EP Don’t Bring me Down, usado no filme francês “36 Quai des Orfèvres” (apenas “36”, no Brasil). Classificado como o estilo eletrônico downtempo, com o uso de instrumentos acústicos e toques eletrônicos ao fundo, dessa vez Sia foi comparada com Dido e Sarah McLachlan. Nos Estados Unidos, o CD foi lançado somente em 2006, com as faixas bônus: Broken Biscuit, Sea Shells e dois remixes de Breathe Me. É melhor que o CD anterior e mais melancólico, porém a cantora disse: “Eu chamo de escuta fácil. Isso é o que eu venho dizendo a todos. Você acha que é depressivo? Não é tão deprimente, é? Foi concebido para ser agradável, fácil. Sonoro e exuberante”.

Ela compara os dois álbuns: “Quase tudo no primeiro álbum [Healing is Difficult] era sobre isso [a perda do namorado na vida real]. Eu fiquei muito ‘fodida’ depois que o Dan morreu. Na verdade eu não conseguia sentir nada. Eu pude intelectualizar muita coisa: que eu tive um propósito, que eu fui amada; mas eu não conseguia sentir nada. O último álbum foi muito deflectivo. Este [Colour the Small one] é muito expositivo. Eu acho que é a diferença entre os dois álbuns, o primeiro foi intelectualizado, este é sentido... E eu parei de beber. Provavelmente por isso é o que é”.

• Breathe me – também foi usada no Victoria’s Secret Fashion Show de 2006.

Ouch, I have lost myself again

Lost myself and I am nowhere to be found


• Don’t Bring me Down

I'm listening to you breathing in and breathing out,

needing nothing


• Sunday



Yeah, it will be ok

Do nothing today

Give yourself a break

Let your imagination run away


• Sweet Potato

She senses you are lonely, but still she can't be sure.

And so she stands and waits anticipating your thoughts.

How can she become the psychic that she longs to be to understand you?


• The Bully – com a colaboração de Beck. “Havia este garoto na escola com o qual eu realmente era cruel, e eu me senti mal em relação a isso desde então. Cheguei ao ponto de ter pesadelos. Então eu quis escrever uma música para me desculpar”.

I wish I had taken you in my arms

• Rewrite

So when you're finished with this dream

Delete begin to rewrite me


• Where I Belong – iria entrar na trilha sonora do filme Homem-Aranha 2, mas não deu certo a negociação. Na capa do single, ela está vestida como o super herói.

And soon you will see we are blessed and complete

There's a place here for you with me


• Numb

The pain may fill you

I saw you shy away

The pain will not kill you


• The Church of What’s Happening now

I will not run from bad things I've done

They're things I'll try not to repeat


• Natalie’s Song

She barely speaks

But I hear her breathing

That's all I need

Someone who's listening


• Moon

I believe the world it spins for you

• Butterflies

We've shared joy and we've shared pain

We've shared guilt and we've shared shame


Some People Have Real Problems (2008)

Ficou em 26º na lista dos 200 álbuns mais vendidos do ano, no Reino Unido, e foi considerado pelo iTunes o Top Pop Album de 2008. Quem comprava o CD podia fazer o download das músicas: Buttons, Blame it on the Radio, Cares at the Door e Bring it to me. Considero o melhor CD da Sia até o momento, com suas melhores letras e no mesmo estilo do antecessor. Impossível não se apaixonar depois de ouvi-lo. • Soon We’ll be Found – foi por meio deste videoclipe que eu a conheci e me encantei. Por sinal, é o melhor clipe dela. Belíssimo!


Well, it's been rough, but we'll be just fine

Work it out. Yeah, we'll survive

You mustn't let a few bad times dictate


• Day too Soon

I've been running all my life

I ran away, I ran away from good

Yeah, I’ve been waiting all my life

You're not a day, you’re not day too soon


• Academia – tem uma das melhores, se não a melhor, letra da Sia. Feita de metáforas perfeitas!

The pass of your poem is to swathe me in your knowingAnd the beauty of the word is that you don't have to show it […]

Oh academia, you can't pick me up

Soothe me with your words when I need your love […]

I'm a binary code that you cracked long ago

But to you I'm just a novel that you wish you'd never wrote […]

You're a cryptic crossword, a song I've never heard

While I sit here drawing circles I'm afraid of being hurt […]

And if I am a number, I'm infinity plus one

And if you are five words, you are “Afraid to be the one”

And if you are a number, you're infinity plus one

And if I am four words, then I am “Needing of your love”


• Lentil

Now all I have is riches and stitches and pictures

But money could never buy what you give


• Little Black Sandals

Sometimes I'm tempted,

sometimes I am.

I would be lying if I said I didn't miss that giant man.

He was the line between pleasure and pain,

but me and the feet have some years to reclaim


• You Have Been Loved

Will you ever know

that the bitterness and anger left me long ago?

Only sadness remains,

and it will pass


• Electric Bird

Someone took your tweet

One day they fed you that bad seed

You can't fly away electric bird


• I go to Sleep

I was wrong, I will cry,

I will love you till the day I die.

You were all, you alone and no one else.

You were meant for me


• The Girl you Lost to Cocaine



So just cut me loose, learn to tie your shoes

There's somebody here, I'd like to introduce

So look in the mirror, look for the glass

'Cause you’re not my problem, you are my last


• Buttons



Yes, I see you open wounds in everyone I’ve dated

Away from me lover, get away from me lover


• Beautiful Calm Driving

Beautiful calm driving, emotional hiding

• Playground

Close my eyes and then I realize

You are never far behind me


• Death by Chocolate

The headaches feel a bit like it

you might explode,

but you reach the end of the road.

And you, little tree,

I'm certain you will grow


• Lullaby

Place your past into a book

Put in everything you ever took

Place your past into a book

Burn the pages let them cook


Outros

Only See (1997) – até hoje não encontrei para baixar. Se alguém tiver algum link, por favor, me envie!

Don’t Bring me Down EP (2003) – também nunca achei para baixar.

Lady Croissant (2007) – possui 8 músicas ao vivo e uma nova de estúdio (Pictures).

Day too Soon EP (2007) – lançado no iTunes. Outro que não baixei.

iTunes Live From Sidney EP (2009) – Se alguém souber de um link para fazer download, agradeceria!



Zero 7 – Na mesma época em que lançou “Colour the Small one”, Sia emprestou seus vocais para este grupo, com o qual saiu em turnê. Do primeiro álbum deles, “Simple Things”, ela cantou Destiny e Distractions. Do segundo “When it Falls”, outras duas músicas: Somersault e Speed Dial No. 2. E no álbum “The Garden Falls”, de 2006, ela cantou seis canções: Throw it all Away, com Henry Binns, The Pageant of the Bizarre, You’re my Flame, This Fine Social Scene, If I Can’t Have you e Waiting to die. Ela conta que foi durante a turnê que teve a maior influência para o seu álbum. “Foi quando eu realmente comecei a ouvir música. Todas as outras músicas que ouvi na minha vida foram causalmente, nas boates, carros, elevadores. Eu só tive 2 CDs: uma antologia dos Jackson 5 e "Grace", de Jeff Buckley. Enquanto estávamos em tour, os caras do Zero 7 estavam sempre falando de artistas que eu nunca ouvi falar, então eu comprei um discman e comecei a ouvir os CDs de James Taylor, Nick Drake, Harry Neilson, Randy Newman e Django Bates. E tudo isso só me surpreendeu”.



We are Born (2010)

Dia 07 de junho do presente ano, Sia lança seu mais novo álbum. A música You’ve Changed já tem videoclipe:



Ela já vinha cantando You’ve Changed, The Co-Dependent e Clap Your Hands nos seus últimos shows. E You’ve Changed já alcançou o 31º lugar na parada australiana, sua melhor posição até hoje. Buttons, sua segunda melhor posição nos charts, ficou em 67º.

Outras 5 músicas (The Fight, Clap Your Hands, I’m in Here, Big Girl Little Girl e Bring Night) podem ser ouvidas no site oficial da cantora: http://www.siamusic.net/
Pelo que parece, Sia está muito mais alegre no novo trabalho. Mas uma coisa não mudou: as músicas que ouvi são ótimas! O CD tem grandes chances de se tornar o melhor dela. Só quando lançar é que vamos ver se "she has changed for the better" também!



Clique aqui para saber sobre a Sia - contribuições, duetos, covers, etc.

Termino com uma fala da Sia, na época do lançamento de “Colour the Small one”:

“Eu não quero ser uma superstar [...] É emocionalmente muito estressante; sessões de fotos sempre me fazem querer uma cirurgia plástica. Eu só queria escrever um álbum que fosse eu: uma pequena, estranha e necessitada ‘freak’”.
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UPDATE:
No último dia 19, Sia lançou um novo clipe, da música Clap Your Hands, presente no CD We Are Born, que sairá me junho. Segue o clipe:

terça-feira, 13 de abril de 2010

Armários Vazios

Quando uma criança nasce, se é menino usa azul; se é menina, rosa. Rapazes brincam com carrinhos; gurias, com bonecas. Homens jogam futebol, falam de política e sexo; mulheres cozinham, cuidam da casa e dos filhos. O sexo masculino tem que gostar do feminino; e a figura feminina necessita de uma masculina. Superficialmente, este é o paradigma, a regra, o considerado padrão correto, aceitável e digno. Mas e quando alguém não se identifica com o que é comum para a maioria?
Toda vez que um menino quer um brinquedo rosa ou quer brincar de casinha, os adultos já dizem “Isso não é coisa de homem!” – ele percebe que não pode gostar de algumas coisas. Toda vez que, na Educação Física, um rapaz quer jogar queimada, ao invés de futebol, e o professor não deixa – ele é obrigado a se encaixar em um grupo com o qual não se identifica. Toda vez que uma mulher fala que algum artista (digamos, Jake Gyllenhaal) é um “deus grego”, e o gay não pode falar o que pensa (“Concordo plenamente. Que homem gostoso!”) – ele tem receio de se expressar. Nas citadas situações e em milhares de outras, a cada mínima coisa fora do que é “comum”, o ser humano (antes de tudo!) gay é empurrado para um armário escuro, solitário, frio e aterrorizante.
Já pensou se você não pudesse fazer o que gosta, falar o que pensa, se vestir como quer, viver como deseja, amar quem você ama – enfim, não pudesse ser você mesmo? Você se anularia, parcial ou completamente, para se encaixar ao que a sociedade considera “natural”, “normal”, “correto”? Ou você preferiria ter o rótulo de “abominação”, ser o que é, e tentar mudar o pensamento geral da sociedade por meio da sua conduta de vida?
Há mais de 15 dias, o cantor Ricky Martin assumiu que é homossexual, depois de 38 anos de vida e mais de 25 anos de carreira, desde que entrou no extinto grupo Menudos. Este não é um caso isolado. Cantores e atores disseram ser gays ou bissexuais nos últimos tempos (Não "fim dos tempos"!). E, neste ano, vimos o considerado “BBB Colorido”. Ouço muitos afirmarem: “Nunca houve tantas ‘bichas’ no mundo?” Ou, pior: “O mundo está perdido mesmo!”
Acredito que a proporção de homossexuais no planeta é a mesma. Não li sobre nenhuma estatística oficial que prove que os gays estão dominando o mundo. O que está acontecendo é: Os armários estão ficando vazios! Para o desespero dos homofóbicos.
Todas as pessoas deveriam se colocar no lugar dos gays. (O ideal mesmo seria haver uma mágica em que, literalmente, fosse possível trocar de pele e sentimentos, pelo menos por 24 horas). Ninguém faz idéia de como é viver dentro do armário, a não ser quem está ou esteve lá.
Desde que me assumi (por etapas, ao longo dos quase últimos dois anos), todo dia luto para não voltar a entrar nessa “prisão emocional”.
A primeira etapa – tirar um pé do armário – é a autoaceitação. Demorei 16 anos para falar, pela primeira vez, a outra pessoa as três palavras mágicas: “Eu sou gay!”. Sempre soube o que era e o que queria, mas, mesmo assim, não foi fácil me assumir. Há pessoas que com 12 anos já são totalmente resolvidas. Quanto antes, melhor! O problema é que muitas pessoas sofrem sozinhas, caladas, pensando serem as únicas no mundo a ter aquela “doença”, “maldição”. Atualmente, temos a internet, que pode ser um dos motivos de tantas pessoas saírem do armário, já que conversar com outros iguais, trocar informações e conhecer novos amigos ou amores se tornou muito mais fácil.
Depois, geralmente, o homossexual se assume para os amigos. Mais um pezinho sai do armário. Aqui, muitas vezes, a aceitação costuma ser maior, pois cada um conhece o amigo que tem do lado, tem ideia de como será a reação dele. Porém, cada caso é um caso. Posso dizer que, quando meus melhores amigos souberam qual é a minha orientação, nossa amizade se fortaleceu sobremaneira. Amigos verdadeiros sempre ficarão do seu lado, te apoiando, aconselhando e, mesmo talvez não te entendendo, te aceitando.
Falar para a família: “Eu, filhinho/maninho/netinho, sou gay” é colocar a cara para fora do armário, com todo o perigo de levar um tapa da mamãe (que nem sempre aceita, como diz um quadro do Zorra Total), um murro do papai (‘Prefiro um filho morto!’), um cuspe dos irmãos (‘Não te conheço!’) ou puxão de orelha da avó (“Quer me matar logo, né?!”). Mesmo em situações onde os pais sempre desconfiaram, ou em uma família liberal – Quem dera fosse como em Ugly Betty, que a mãe faz uma festa ‘Saindo do Armário’ para o filho gay –, nunca vai ser uma notícia simples. É preciso lembrar que, para eles, os sonhos de casamento, ter netos/sobrinhos/bisnetos, etc. estão indo por água abaixo. Mesmo que não seja a realidade. Contudo, é nesta etapa que se coloca o rosto para fora, para ver quem verdadeiramente está do seu lado e ver se tem apoio para sair de corpo todo ou se volta para dentro do armário.
A fase anterior pode ser a mais difícil e dramática, mas é contra esta última que se trava uma batalha durante toda a vida. Assumir-se para a sociedade é sair definitivamente do armário, de cabeça erguida. É ter coragem para correr o risco de andar pela rua e levar “pedradas” todos os dias, ouvir xingamentos, sofrer insultos, preconceito, discriminação. É ter coragem de levar o marido para a confraternização de final de ano da empresa em que trabalha. É ter a ousadia de andar de mãos dadas na rua. É ter orgulho de responder a quem perguntar: “Namorada não, namoradO!”. É solicitar no check-in de um hotel um quarto com cama de casal e não duas de solteiro. É discutir com quem dá opiniões homofóbicas. É enfrentar o medo e, por exemplo, dar entrevista, para uma revista falando sobre homossexualidade, com o nome verdadeiro e não com um fictício (coisa que fiz para o Jornal da UCB nos últimos dias – e pensei muito antes de dar meu nome real). Não é nem um pouco fácil!
Algumas pessoas me perguntaram em várias ocasiões – seja uma amiga, em relação à entrevista; seja minha mãe, quanto a me assumir para minha avó; etc.: “Por que dizer para ‘Deus e o mundo’ que você é gay? Por que as pessoas precisam saber? Por que não ficar calado? Ninguém precisa saber!”.
Não. Ninguém precisaria saber. Não quero me assumir para mostrar que sou “rebelde”, “diferente”. Muito menos, não quero “envergonhar” minha família. Mas somente quem é homossexual vai entender essa necessidade – e não uma simples vontade. Explicar para os heterossexuais o porquê sair do armário é complicado, mas o gay SENTE que deve colocar para fora o que teve que segurar dentro de si a vida inteira.
A pergunta, sobre se eu deveria usar meu nome verdadeiro ou não na entrevista, ao invés de ser “Por que dizer seu nome?”, deveria ser: “Por que NÃO dizer meu nome?”. Eu tenho vergonha de ser o que sou? Tenho medo do que vão falar de mim?
Enfrentar a vergonha e o medo, por exemplo, é sair do armário com o peito estufado, mesmo com a possibilidade de descarregarem a munição em você. Cada um leva seu tempo. Cada um demora um período para vestir o colete a prova de balas e sair gritando “Guerra!” aos homofóbicos.
Não me entenda mal. Nunca é uma decisão simples de ser tomada. Durante toda a vida, os homossexuais vão ter que lutar contra si mesmos (seus próprios preconceitos e medos) e contra o mundo (por Liberdade, Igualdade, Fraternidade, etc. – Respeito, pelo menos).
Se o mundo está perdido? Quando vejo pessoas como Marcelo Dourado ganhando o BBB, acredito que sim. O problema não é nem a pessoa que ele é, mas, como li, o que ele representa.
O mundo estará perdido até perceber que o normal não é apenas o comum; até entender que toda regra tem exceção, e que a exceção não é algo a ser eliminado, algo ruim, mas sim entender que o diferente também é natural. E, acima de tudo, quando as pessoas passarem a colocar em prática o ensinamento de Jesus: "Amar ao próximo como a si mesmo!"
Torço para que todos os que estão dentro do armário (completamente, com um pé, os dois, a cabeça e/ou o tronco) tenham o discernimento de saber qual é o melhor momento para se assumir, tenham a bravura suficiente para deixar esses armários vazios e, de preferência, só tornem a enchê-los com todo o preconceito, discriminação, ódio, medo e desrespeito que há na sociedade. Por fim, que todos os gays tranquem o armário, com todos os males dentro, para todo o sempre e joguem a chave fora.

There's a "he" wolf in the closet
Open up and set "him" free
There's a "he" wolf in your closet
Let it out so it can breathe