Havia visto esse filme quando estreiou no cinema, mas por causa de um trabalho da universidade resolvi vê-lo novamente e fazer a crítica que segue abaixo. Espero que gostem!

Não menosprezando outros aspectos do filme, mas as imagens são o que mais impressiona, com planos que sabem valorizar e explorar as magníficas locações no Alasca e parte oeste dos Estados Unidos. Após uma rápida ação perturbadora dos pais do protagonista Christopher McCandless, é a imensidão branca que preenche a tela, a natureza passa de cenário à personagem ao longo do filme, e é ela que por vezes está em destaque. Em muitas outras cenas, mesmo com o foco nos personagens ou ações, um pedacinho do paraíso aparece em primeiro plano, como moldura de uma história dramática e instigante.
Alexander Supertramp (Superandarilho), conhecido na civilização como Christopher Johnson McCandless, foi um rapaz que teve tudo para ser bem sucedido na vida – tinha uma família bem abastada, era graduado –, contudo, por causa do seu idealismo, incentivado pela leitura de escritores como Jack London, Leo Tolstoi e Henry Thoreau, resolveu abandonar a “doente sociedade”, cheia de pessoas materialistas vazias que vivem uma vida de mentira, para ir em busca de um encontro consigo mesmo, livre de todas as amarras capitalistas – quebrou cartões de crédito, queimou dinheiro, destruiu documentos e doou seu dinheiro à caridade. Ele não queria nada de sobra, ele queria o suficiente. "Coisas, coisas, coisas, coisas". Não haviam mais coisas para este andarilho extremista, “um viajante esteta cujo lar é a estrada”.
Finalmente liberto, ele segue seu caminho rumo à natureza selvagem – o Alasca. Por dois anos esteve sem telefone, carro, piscina e um itinerário fixo, vivendo a custa de bicos e doações, locomovendo-se por meio de caronas ou até descendo ilegalmente as turbulentas corredeiras de um rio em um caiaque.
O companheirismo e a ajuda mútua, independente de situação financeira ou social, também é uma lição apreendida no longa. Todos têm ensinamentos, algo a transmitir, marcas a deixar em quem pelo caminho encontrar. Diferente do relacionamento com a própria família, que sem dúvidas foi uma das causas de tal rebelião contra a sociedade americana, com exceção da fiel e compreensiva irmã, Chris ficou todo o tempo sem manter contato algum, e criou laços significativos com pessoas que o ajudaram no caminho. Ele deixou seus pais para ser "filho" ou "neto" de outros, além de um rápido envolvimento amoroso.
Estava tão selvagem, que os encontros com a civilização eram contrastantes. Chegou a ser praticamente mendigo, procurar abrigo em albergues e não seguir “estúpidas regras” sociais. Tornou-se periférico. Era tão contrário à sociedade esbanjadora que não conseguia se adaptar. Certo momento, na cidade grande, se imaginou caso não tivesse optado pelo vida que estava levando, e não conseguiu se suportar.
Depois de cem dias totalmente selvagens no Alasca, ele havia sobrevivido. Porém não da forma como gostaria. Chris se encontrava no limite entre a fé e o desespero. Uma série de falhas o havia levado ao pior estado imaginável por ele até então: sozinho à beira da morte.
Para começar, depois de ter encontrado o “ônibus mágico” e ter se estabelecido em uma rotina, caçando para sobreviver e criando sua própria “civilização”, ele havia ignorado que a natureza está em constante mudança e que as estações trazem consigo novas adaptações. Quando enfim decide voltar à sua vida urbana, o lânguido riacho pelo qual havia cruzado no inverno, na primavera estava intransponível, tornara-se um caudaloso rio. E para completar, na insensatez do surto pela falta de alimento, por engano, acabou comendo uma frutinha venenosa que causa inanição. A morte batia à porta do ônibus-abrigo.
Quem leu o livro biográfico de 1996, Into The Wild (nome original do filme), escrito por Jon Krakauer (autor de outros livros selvagens, como No Ar Rarefeito), sabe que fim dramático McCandless teve, e o filme soube mostrá-lo com sensibilidade e força. “Eu fui literalmente aprisionado pela natureza”, segundo suas palavras. Depois de tanto fugir das pessoas em busca da solidão, arrepende-se, e lamenta o fato de não ter tido com quem dividir aqueles momentos.
O filme, narrado pela personagem que representa a irmã, Carine, é bem editado, não é à toa que concorreu ao Oscar de Melhor Edição (Jay Cassidy). Com momentos “diário de McCandless”, interessantes por sinal, o filme não agrada muito pela capitulação das fases pelas quais o protagonista passa, desde seu "nascimento" até se tornar sábio.
A narrativa, diferente da maioria dos filmes hollywoodianos, é mais lenta, o que pode aparentar monotonia aos dispersos, quando na verdade caminha pela sutileza. Contudo, o fato de não explorar as grandes ações é errôneo, já que desperdiça uma grande cena, como a da inundação de uma área onde Chris iria pernoitar, o que causa a perda do seu carro.
O maior pecado, no entanto, é o descambo para a nudez, totalmente desnecessária para o roteiro, como a maioria dos filmes que não podem perder a oportunidade de mostrar uns seios ou até mesmo a genitália masculina, como nesse caso também, para chamar mais a atenção do público. Se servir de contrapartida, essas cenas foram rápidas e não de todo vulgares.
A trilha sonora de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam em seu primeiro trabalho solo, é excelente e tem uma ligação umbilical com o filme. No Globo de Ouro, inclusive, o filme concorreu à Melhor Trilha Sonora e ganhou como Melhor Canção por "Guaranteed".
As referências são muito significativas e quem vê o filme sai com vontade de ler todos os autores citados. As interpretações atingem a essência. Hal Holbrook, um simpático senhor que aparece no caminho de Chris, concorreu como Melhor Ator Coadjuvante no Oscar.
Sean Penn, que dirigiu, produziu e fez o roteiro do filme, depois de uma espera de dez anos, conseguiu fazer um trabalho muito bom e impactante. Emile Hirsch, que teve de perder 18 quilos para encarnar o personagem, conseguiu transmitir que existem coisas mais importantes pelas quais se viver do que o dinheiro, muitas vezes entronizado como determinador do sucesso ou fracasso.
É impossível traduzir em palavras o motivo de tal irracional consciente atitude. Ninguém que o ouvisse entenderia, e o julgamento seria inevitável. Todavia, McCandless cria uma cumplicidade com o público, que não precisa ser explicada, basta ver através de seu olhar, tantas vezes valorizado de forma inteligente e subjetiva. É como se o público soubesse o que se passa naquela mente.
O protagonista é realmente alguém inquieto interiormente. Nas cenas em que aparece, a imagem é sempre movimentada, em contraste com as cenas onde a paisagem impera e o panorama estático traduz a tranqüila e astuciosa natureza.
Tudo tem seu limite. McCandless foi aconselhado que era um erro ir fundo demais, mas o instinto falou mais alto. Ele buscou humanidade na natureza selvagem. A linha que divide coragem e loucura, no caso dele, foi muito tênue, e ele se valeu de um pouco dos dois para chegar onde chegou. Às vezes, meio imprudente, ou totalmente, mas de
uma bravura, grandeza e espírito magníficos. Ao menos uma vez na vida, todo ser humano devia se permitir usufruir dessa liberdade mágica, na natureza selvagem. "Aonde você vai? Já disse. A lugar nenhum!".
Tudo tem seu limite. McCandless foi aconselhado que era um erro ir fundo demais, mas o instinto falou mais alto. Ele buscou humanidade na natureza selvagem. A linha que divide coragem e loucura, no caso dele, foi muito tênue, e ele se valeu de um pouco dos dois para chegar onde chegou. Às vezes, meio imprudente, ou totalmente, mas de

"E não se esqueça, se quer algo na vida, vá atrás e pegue!
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